A prostituição infantil sob a ótica da
sociedade e da saúde.
“Apesar de ter havido ampla discussão sobre a prostituição infantil,
percebe-se que, em termos de resultados de pesquisas publicados, ainda pouco se
tem produzido. Portanto, para se abordar o assunto, tem-se que recorrer a referenciais
dos estudos sobre a prostituição em geral. Neste texto foram feitas
considerações acerca da prostituição enquanto saber médico, a partir de estudos
baseados em teses de medicina do século XIX, produzidas na cidade do Rio de
Janeiro”.
“Em geral, áreas do Centro-Oeste e do
Norte se misturam na prática do tráfico de meninas recrutadas para a prática da
prostituição, tendo como capital desta rota Itaituba, Município do Pará. Mas,
nessas regiões, os problemas não são uniformes em todos os locais. Há diferenças
nas áreas de garimpos, comparadas ao agenciamento da prostituição infanto-juvenil
das cidades, como Belém e Manaus, no Norte, e Brasília, no Centro-Oeste. No
interior, nos centros urbanos também a situação apresenta várias modalidades. O
aliciamento para a prostituição bem como a sua manutenção oscila entre o
requinte, como é o caso dos programas de hotéis para clientes importantes, financeira,
social ou politicamente, e o ambiente das meninas pobres, sobretudo das que
vivem na rua, exploradas financeira e sexualmente por
policiais e pessoas que vivem ou
transitam nesses espaços públicos.
Na Região Nordeste foram constatadas
duas realidades. Uma delas se refere ao fato de meninas que vivem na rua
recorrerem à prostituição ou a ela se
submeterem como forma de
sobrevivência. A outra diz respeito ao agenciamento de crianças e adolescentes,
em estabelecimentos privados, para a comercialização do sexo. No âmbito da
comercialização,
há praticamente em todo Nordeste uma
predominância de turismo sexual com, pelo menos, duas formas de agenciamento. A
mais comum, em cidades como
Natal, Fortaleza e Recife, é a
promoção de pacotes de turismo que incluem as meninas como atração sexual.
Donos de hotéis, táxis, barracas das praias e
de boates formam uma rede organizada
em torno desse negócio rentável. Há relatos que também apontam a existência de
tráfico de adolescentes para o
exterior, com destino à prostituição. Em
relação ao Sul, destacam-se os depoimentos relativos aos Estados do Rio Grande
do Sul e de Santa Catarina, apontando também a existência de gangues e
quadrilhas especializadas em traficar e prostituir meninas. Há casos em que
meninas são vendidas por
50 a 100 dólares cada uma. Entre as
formas de aliciamento no interior dos Estados dos Sul, ressaltam- se as seguintes:
(a) gigolôs, escolhido como símbolo da gangue, passava, no interior, por
inofensivo vendedor de bonecas e bichinhos de pelúcia, expostos em praça
pública, funcionando como chamariz;
(b) anúncio de programa de rádio,
chamado “Hora do Recado”, oferecendo emprego e escola, mas na realidade
servindo de recrutamento de meninas para agenciadores; (c) motoristas de táxis
que, com promessas de emprego, recrutam as crianças nas casas do pai e
levando-as para um prostíbulo de beira de estrada, fazendo eles próprios, no
caminho, a iniciação sexual; (c) gigolôs que pegam jovens prostituídas e as
levam para o local onde a safra agrícola for melhor. Na Região Sudeste,
ressaltam-se os relatos do Rio de Janeiro e São Paulo. Na cidade do Rio de Janeiro,
a situação encontrada foi a seguinte: a) foi a única área onde os depoimentos
nomearam a prostituição
infantil masculina, sendo basicamente
de natureza homossexual, com “michês” oriundos de várias classes sociais; b) apresenta
situações semelhantes às outras regiões, onde existem explorações de turismo
sexual e por clientes locais; c) mencionam-se casos de meninas que vivem nas
ruas e para sobreviverem trocam favores sexuais, sem elas se considerarem
prostitutas; d) assinala-se a presença marcante de pseudo agências de modelos,
camuflando
a exploração sexual de meninas e
adolescentes; e) registrado, pela gravidade da denúncia, o caso de uma diretora
de CIEP (Centro Integrado de Educação
Popular) que organizou um álbum de
fotografias de estudantes, encaminhando-o a um motel para a escolha de
clientes. No que se refere à situação de São Paulo, existem menções de casos de
crianças e adolescentes que vivem na rua e sofrem violências sexuais,
principalmente por parte de policiais, assim como de outras que caem nas mãos
dos cafetões ou cafetinas. Algumas
delas usam drogas, crack na
maioria das vezes ou são usadas por traficantes para passar as drogas para os clientes.
Outras, que chegam com caminhoneiros fugindo de casa ou com o sonho de emprego,
são presas fáceis para os agenciadores. A polêmica que se estabelece entre
meninas que vivem na rua e prostituição infanto-juvenil também é objeto de
discussão nesse Estado.”
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